quarta-feira, 30 de junho de 2010

Às quartas

Exílio

Em silêncio
A canoa sobrecarregada deixa as nossas costas

Mas quem são estes soldados de camuflado,
Estas nuvens que irão chover em terras estranhas?

A noite está a perder os seus tesouros
O futuro parece um mito
Urdido num tear manejado por mãos indolentes.

Mas talvez nem tudo seja mau para nós
Como da porta de uma cabana a mil quilómetros de distância
A mão esquálida de uma criança cumprimenta
Os dedos compridos e ossudos da chuva.

Mbella Sonne Dipoko
(Trad.: José Alberto Oliveira)

É legítimo que todos acedam ao topo da carreira?

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Optei por responder no corpo principal do blogue a um comentário feito por Fernando Vasconcelos, porque a questão por si levantada, não sendo nova, é pertinente e polémica. Deste modo, começo por transcrever o comentário e depois as minhas observações às questões que o comentário suscita.
Comentário ao meu post «Pois é, saiu o novo Estatuto da Carreira Docente» (23/6/10):
Mário : Devo então inferir que pensa que não deveriam existir quotas para o acesso às classificações mais elevadas? E que não deveria existir a dependência de vagas para o acesso ao topo da carreira? É que concordo totalmente com o primeiro ponto. Podem existir perfeitamente 100% de professores óptimos ou excelentes. Já no segundo ponto discordo em absoluto. Acho que a progressão na carreira deveria ser exclusivamente possível com a existência de vagas e não apenas no seu topo. Para qualquer escalão. Penso também que isso deveria ser resolvido por concurso baseado em currículo pelo menos acima de um determinado nível. A avaliação nada deveria ter a ver directamente com esta progressão. A avaliação deveria apenas ser uma reflexão do mérito e qualidade do professor. Poderia ser assim simples e justa. Eventualmente poderia até dar lugar a prémios de desempenho. Quando se pretende que um processo de avaliação contribua para resolver questões orçamentais de forma directa cria-se o monstro actual. Burocrático, injusto, desnecessariamente complexo. Obviamente nem todos podem chegar ao topo. É assim (ou deveria ser) em todas as profissões (pelo menos no sector privado é) não vejo sinceramente porque há de ser diferente na vossa, desculpe a frontalidade da opinião.
Fernando Vasconcelos

A questão que Fernando Vasconcelos coloca é esta: é correcto que todos os professores possam ascender ao topo da carreira? E a resposta que dá é: «Obviamente que nem todos podem chegar ao topo». Todavia, o Fernando Vasconcelos não justifica o «obviamente», o que aqui seria, como reconhecerá, fundamental. O Fernando Vasconcelos diz somente que: «É assim (ou deveria ser) em todas as profissões (pelo menos no sector privado é) e não vejo sinceramente porque há-de ser diferente a vossa.»
A este propósito, deixo-lhe algumas perguntas:
1. «Deveria ser assim em todas as profissões» porquê?
2. Todas as profissões são de natureza idêntica? Prosseguem os mesmos objectivos? Têm as mesmas exigências? A resposta é negativa para as três. Porquê, então, aceitar à partida, sem submeter a escrutínio, que todas devem ter as mesmas regras de progressão (ou, neste caso, de impedimento de progressão)?
3. O que se passa no sector privado é necessariamente exemplo para o sector público? Mas porquê, com que fundamento?
4. O sector privado e o público são comparáveis, ou são sempre comparáveis?

Agora, algumas observações sobre o assunto.
Na questão do «público» e do «privado», há um aspecto fundamental, que todos conhecemos, mas que nem sempre convocamos para a nossa reflexão: o «privado» visa a obtenção de lucro, o «público» não visa a obtenção de lucro (do mesmo modo que também não pode aceitar o desperdício). O «público» e o «privado» são de natureza objectivamente diferente e não se pode fazer de conta que não são.
E se é verdade que a natureza radicalmente diferente destes dois sectores não implica que tudo seja radicalmente diferente entre eles, implica, contudo, que seja substancialmente diferente. Por isso, tenho sempre alguma dificuldade em compreender a comparação que, a propósito de tudo e de nada, se faz entre o «público» e o «privado».
Vejamos agora o problema da restrição do acesso aos escalões.
A existência de uma hierarquização profissional com acesso por quotas aos diferentes escalões justifica-se sempre, ou apenas em determinadas circunstâncias?
Há razões substantivas para que se assuma como regra universal a limitação do acesso a escalões intermédios e/ou ao escalão topo de carreira?
Partamos do seguinte exemplo: Se o António possui os requisitos (conhecimentos e/ou competências e/ou experiência, etc. — ou seja, os requisitos que estiverem definidos pelo serviço ou empresa) para aceder a um determinado escalão profissional, que justificação pode haver para que o António não aceda a esse escalão?
Do meu ponto de vista, só pode ser por uma de duas razões, ou pelas duas razões:
a) Porque a especificidade dessa profissão exige uma rígida cadeia de comando hierarquizada (como é o caso das forças armadas, das forças de segurança, ou de empresas cuja gestão necessite de uma estrutura idêntica);
b) Porque se pretende minimizar os gastos com os salários, para aumentar os lucros da empresa — ou seja, uma razão de natureza economicista — e/ou para fomentar uma desenfreada competição entre colegas, com base no pressuposto (por vezes verdadeiro, por vezes falso, depende da natureza do trabalho e do perfil dos profissionais em questão) de que, assim, as suas perfomances melhoram.
Ora a profissão de professor não exige nem precisa de uma cadeia de comando hierarquizada. É claro que tem de haver quem assuma responsabilidades de direcção e de coordenação (e deve ter, pelo exercício dessas funções, um complemento remuneratório), mas isso nada tem que ver com um sistema restritivo de vagas à subida de escalão.
O trabalho de professor tem uma forte componente individual (formação científica e pedagógica, inicial e contínua; preparação de aulas, elaboração de material didáctico, correcção de trabalhos, testes, etc.) e uma importante componente colectiva (no grupo disciplinar, nos conselhos de turma, em projectos de natureza diversa, etc.). A primeira componente é isenta de qualquer necessidade de comando hierarquizado e a segunda componente necessita apenas de coordenação (todavia, essa coordenação pode, em alguns casos, ser exercida de modo alternado. Por exemplo, no conselho de turma do 12º A, essa função é exercida pela prof. X, e o prof.Y é coordenado por esse colega, e, no conselho de turma do 12.º B, o inverso).
Sou daqueles que defende que a verdadeira função do professor é ensinar. O resto são adjacências. E para ensinar, isto é, para o professor cumprir a sua função, os alunos têm de aprender. É por isso que se fala em processo de ensino-aprendizagem, isto é, para acontecer o acto de ensinar tem de acontecer o acto de aprender. Ora a qualidade do acto de ensinar não tem nenhuma relação com a introdução de restrições no acesso aos diferentes escalões.
Aceitar essas restrições produz uma contradição, só explicada por razões economicistas (razões que são inaceitáveis, quando se diz que a Educação é a área fundamental de qualquer país): por um lado, estipula-se que para aceder a determinado escalão é necessário preencher um conjunto de requisitos, por outro lado, impede-se que quem possui esses requisitos aceda a esse escalão.
Pela mesma razão que não deve haver quotas na atribuição do Muito Bom e do Excelente, também não deve haver quotas no acesso aos escalões. Portanto, todos os professores que tenham a classificação de Bom na sua avaliação e preencham os demais requisitos que a lei obriga, devem aceder ao escalão a que têm direito, sem restrições.

Caro Fernando Vasconcelos,
Vou completar, no próximo ano, trinta anos de serviço, e, acredite, não vi, durante estes anos, nenhum motivo que me levasse a concluir que a restrição do acesso aos escalões pudesse contribuir, no que quer que fosse, para a melhoria do ensino. Pelo contrário, a experiência destes três últimos anos, em que se introduziram restrições, mostra que muita da disponibilidade para a realização de trabalho «extra», sempre manifestada por muitos colegas, deixou de existir, porque, legitimamente, sentiram que estavam a ser vítimas de gravíssimas injustiças. Assim como viram que o «faz-de-conta» e o compadrio passaram a dominar a vida de muitas escolas, na tal busca desenfreada da vaga para aceder a uma classificação ou, no futuro, a um escalão.
Não fundo esta minha opinião em pressupostos ideológicos nem em alinhamentos politico-partidários, fundo-a apenas naquilo que a experiência me ensina e a racionalidade aconselha.

Aproveito para renovar o agradecimento do seu comentário.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Registos do fim-de-semana

Cumprimento do PEC II pode ficar ameaçado
— Portagens em apenas três SCUT não chegam para cumprir compromisso com Bruxelas

Autarcas não calam revolta

Assis trava mudanças nos feriados

IVA da Coca-Cola não aumenta nas ilhas

Caso PT/TVI: 'Pacheco podia ter ido mais longe' (João Semedo, BE)
Sol (25/6/10)

"Muitas vezes me sinto sozinho a puxar pelas energias do país"

PSD quer CDS no Governo mesmo que tenha maioria absoluta

Autarquias e associações de pais resistem ao fecho de escolas
Público (26/6/10)

Ex-assessor do Governo vende chips para SCUT

A banca nunca esteve pior

Sócrates e Cavaco em troca de palavras

Cavaco tem dúvidas sobre o pacote fiscal

Partidos cortam, mas pouco

Deputados aproveitam as 'pontes'

Deputado ataca salários da REFER... mas esteve lá e ganhava mais
Expresso ((26/6/10)

Mais uma embrulhada deste Governo, a juntar a tantas e tantas outras embrulhadas: SCUT portajadas, ou os critérios que eram e deixaram de ser, ou o segue em frente e o volta atrás, ou o ridículo de não se saber o que se anda a fazer. E quem diz portagens nas SCUT diz feriados, que vão, mas já não vão, ou um dia hão-de, ou talvez não, passar todos para as segundas-feiras. E quem diz SCUT e feriados diz também aumento do IVA, que, afinal, ficámos a saber, não é para todos. E quem diz SCUT e feriados e aumento do IVA diz mega-agrupamentos, diz fecho de escolas, diz a enorme balbúrdia que os governos de Sócrates fazem, em tudo aquilo que tocam.
Também ficámos a saber, pela voz de João Semedo, do Bloco de Esquerda, que, no caso PT/TVI, Pacheco Pereira poderia ter ido mais longe. Vinda de quem vem, esta observação não é apenas curiosa, é curiosíssima...
Praticamente, durante quatro anos, Cavaco Silva só interveio, criticando o Governo, quando os seus poderes foram atingidos, agora foi possuído de um súbito afã oposicionista. O que faz haver eleições à porta...
Finalmente, podemos constatar que a promiscuidade entre funções pública e funções privadas continua de boa saúde e que os partidos e os deputados continuam a ser exemplos da mais elevada moralidade política.

domingo, 27 de junho de 2010

Pensamentos de domingo

«Apresentam-lhe o projecto para a agilização da burocracia. Agradece calorosamente. Lamenta a ausência do módulo H. Conclui que passará o projecto à repartição competente, que está a criar, para um exame cuidadoso.»
Ennio Flaiano

«A minha forma de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais engraçada do mundo.»
Bernard Shaw

«A maior parte das mulheres não é tão jovem como se pinta.»
Max Beerbohm
In Paulo Neves da Silva, Dicionário de Citações.

Oscar Pettiford

sábado, 26 de junho de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca da verdade e da mentira

«Mentir sempre deverá ser tão difícil como dizer sempre a verdade. Bertrand Russell devia estar convencido de que o seu amigo, o filósofo Georges Edward Moore (um filósofo de comprovada honestidade intelectual que havia influenciado visivelmente Russell pela sua prática da análise linguística), nunca havia mentido uma só vez em toda a sua vida.
Um dia, perguntou-lhe directamente:
— Moore tenho a certeza de que nunca mentiste. Não é verdade?
Moore respondeu:
— Não, não é verdade.
Depois do sucedido, Russell viria a comentar:
— Foi a única vez que o vi mentir.»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Está a terminar mais um ano de malfeitorias na Educação

Está a chegar ao fim mais um ano lectivo.
Os professores podem estar satisfeitos com o estado da Educação em Portugal?
Tenho como seguro que serão muito poucos os professores que, com sinceridade, podem sentir satisfação com a situação a que o País chegou, neste domínio.
Naturalmente que aqui não incluo aqueles directores, aqueles (agora extintos) professores titulares e aqueles professores avaliadores que, com a obtenção desses títulos, alcançaram o ponto mais alto da sua realização pessoal e profissional. Vários deles estão profunda e sinceramente gratos a Lurdes Rodrigues. Não fosse aquela ministra, não fosse Sócrates, não fossem os governos do PS, e muitos deles nunca teriam saído do anonimato a que a sua mediocridade profissional naturalmente os teria condenado.
Uns nunca teriam tido a possibilidade, que para muitos é uma volúpia, de ouvirem ser chamados de «senhor director» ou de «senhora directora»; outros nunca teriam tido o prazer de se sentirem distinguidos com o título de «professor titular», que, do ponto de vista de quem assim sente, os colocava inexoravelmente acima, muito acima, dos vulgares professores; aqueloutros nunca teriam alcançado o júbilo de avaliar colegas — mesmo que, na esmagadora maioria dos casos, não tivessem, nem tenham, nenhuma formação ou preparação para o cargo, e mesmo que não existissem, nem existam, condições mínimas para o exercício sério e credível da função. Contudo, para muitos dos empossados avaliadores, o título de avaliador foi/é, só por si, capacitante para a função — conheço, todavia, quem exerça a função de avaliador e não consiga escrever um parágrafo, de meia dúzia de linhas, sem dar dois ou três erros ortográficos, daqueles que, noutros tempos, eram merecedores de palmatória.
Foi com este grupo de professores e com a ajuda de alguns sindicatos e do PSD que foi possível concretizar a política educativa mais irresponsável e aventureira desde o 25 de Abril, de 1974. Quando o poder é incompetente, como foi e é o caso das ministras da Educação do PS, é necessário que, no terreno, alguém lhe dê o suporte para que sobreviva.
Depois de quatro anos e meio de consulado de Lurdes Rodrigues, e depois de um ano de Isabel Alçada, as malfeitorias à Educação não pararam nem param. Para além do inaceitável novo Estatuto da Carreira Docente, recém-publicado, e da manutenção do incompetente modelo de avaliação, instalou-se agora a confusão com mais uma desastrosa medida: a criação dos mega-agrupamentos, resultantes da estúpida fusão de escolas, que tem como exclusivo objectivo poupar dinheiro, sem olhar a meios. O que, nestes casos, significa dizer: sem olhar aos interesses dos alunos, ou, por outras palavras, sem olhar à qualidade pedagógica que esses mega-agrupamentos vão oferecer.
O Partido Socialista vai ficar na História de Portugal como o coveiro da nossa Educação, no séc. XXI. De facto, é muito difícil imaginar poder vir a existir um outro governo capaz de ser tão incompetente tão repetida e tão continuadamente, como são os governos de Sócrates.

Fragmenti veneris diei

«Durante um grande bocado, Fate esteve com as luzes apagadas, olhando pelos vidros da janela para o pátio de gravilha e para as luzes incessantes dos camiões que passavam na estrada. Pensou em Chucho Flores em Charly Cruz. Voltou a ver a sombra da casa de Charly Cruz projectada sobre o terreno ermo. Ouviu o riso de Chucho Flores e viu Rosa Méndez deitada na cama de um quarto despido e estreito como a cela de um monge. Pensou em Corona, no olhar de Corona, na forma como Corona o olhou. Pensou no tipo bigodudo que se juntara a eles no último momento e que não falava, e depois recordou a sua voz, quando eles estavam a fugir, aguda como a de um pássaro. Quando se cansou de estar de pé aproximou uma cadeira da janela e continuou a olhar. Às vezes pensava na casa da mãe e recordava pátios de cimento onde as crianças gritavam e brincavam. Se fechava os olhos conseguia ver um vestido branco que o vento das ruas de Harlem levantava enquanto os risos, imparáveis, se espalhavam pelas paredes, corriam pelos passeios, frescos e mornos como o vestido branco. Sentiu que o sono se metia pelas suas orelhas ou subia do peito. Mas não queria fechar os olhos e preferia continuar a perscrutar o pátio, os dois candeeiros que iluminavam a fachada do motel, as sombras que os flaches de luz dos carros abriam, semelhantes a caudas de cometas, nos arredores escuros.
Às vezes virava a cabeça e contemplava brevemente Rosa a dormir. Mas à terceira ou quarta vez compreendeu que não precisava de se voltar. Simplesmente, já não era necessário. Durante um segundo pensou que nunca mais ia sentir sono. De repente, quando ele seguia o rasto dos faróis traseiros de dois camiões que pareciam ir metidos numa corrida, tocou o telefone. Quando atendeu ouviu a voz do recepcionista e soube logo que era daquilo que tinha estado à espera.
— Senhor Fate — disse o recepcionista —, acabam de me telefonar perguntando-me se o senhor estava aqui alojado.
Perguntou-lhe quem é que lhe telefonara.
— Um polícia, senhor Fate — disse o recepcionista.
— Um polícia? Um polícia mexicano?
— Acabo de falar com ele. Queria saber se o senhor era nosso hóspede.
— E tu o que é que lhe disseste? — perguntou Fate.
— A verdade, que o senhor tinha estado aqui, mas que já se fora embora — disse o recepcionista.»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 395-396.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pois é, saiu o novo Estatuto da Carreira Docente...

«Não é o Estatuto que gostaríamos de ter, mas foi aquele que conseguimos» foi o comentário de António Avelãs (presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, membro da Fenprof), a propósito da publicação do novo Estatuto da Carreira Docente.
Este comentário retrata os dirigentes sindicais que temos e o tipo de sindicalismo que se pratica em Portugal.
Se dois anos de um combate cerrado pela defesa da Educação e da dignidade da função docente, com duas gigantescas, e nunca antes vistas, manifestações nacionais de professores e centenas de manifestações regionais e locais, com duas greves nacionais com adesões maciças, com o reconhecimento unânime da absoluta incompetência do modelo de avaliação de Lurdes Rodrigues, com a perda da maioria absoluta por parte do PS, têm como resultado final:
— a preservação quase intacta da versão simplex do modelo de avaliação de Lurdes Rodrigues;
— a salvaguarda dos resultados obtidos com a vergonhosa e indigna aplicação daquele modelo de avaliação nos três últimos anos lectivos;
— a manutenção do sistema de quotas para as classificações mais elevadas;
— a continuação da dependência (ainda que teoricamente mitigada) da abertura de vagas para acesso ao topo da carreira;
— e, em geral, a prevalência de uma concepção burocrática, tecnocrática e inculta da função docente; cabe agora perguntar: que especialíssimas circunstâncias políticas, sociais e profissionais é que os sindicatos consideram ser necessário existir para não se claudicar perante ataques gravíssimos à seriedade e à dignidade profissionais dos professores, como aconteceu e continua a acontecer com os governos de Sócrates?

Às quartas

Assim

como se planta uma palmeira no deserto
como minha mãe dispõe, sobre a minha cara dura, um beijo
como meu pai tira a capa beduína
e soletra as letras ao meu irmão
como arrasta os cascos de guerra um pelotão
como a haste de trigo se levanta na terra estéril
como uma estrela sorri ao namorado
como seca uma brisa o rosto fatigado do trabalhador
como entre nuvens espessas se levanta uma soberba fábrica
como um grupo de amigos começa a cantar
como um estranho para outro sorri afectuosamente
como uma ave volta ao ninho do amado
como um rapaz leva a sua sacola
como o deserto adverte da fertilidade
assim pulsa em minh'alma a arabidade.

Samih Al-Qasim
(Trad.: Adalberto Alves)

Fecho de escolas e mega agrupamentos - posição do BE

O agradecimento a João Vasconcelos pelo encaminhamento do texto e da informação:


«No sentido de dar conhecimento da posição do Bloco de Esquerda sobre [o fecho das escolas com menos de 21 alunos e sobre os mega agrupamentos], convido-a a ler o Projecto de Resolução que o Bloco de Esquerda entregou a semana passada na Assembleia da República relativo à criação dos mega agrupamento, assim como ao critério dos 21 alunos para fecho de escolas.

O objectivo foi o de estabelecer critérios de qualidade no programa de reordenamento da rede escolar, que consideramos não ter sido a orientação tomada pelo Ministério da Educação desde o inicio do processo.

Para facilitar envio abaixo um resumo do Proj. de Resolução.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Margarida Santos

Assessora do GP do Bloco de Esquerda para a Educação

margarida.santos@be.parlamento.pt

Recomenda ao Governo critérios de qualidade no reordenamento da rede escolar

A 14 de Junho o Conselho de Ministro publica a Resolução n.º 44/2010, que estabelece os critérios de reordenamento da rede escolar do ensino básico.

Na Resolução dois aspectos de reorganização da rede escolar são abordados: por um lado são dadas orientações no sentido do encerramento de todas as escolas de 1º ciclo com menos de 21 alunos; por outro, dá-se a conhecer a crescente tendência do Governo em criar “mega agrupamentos” de escolas, que conduzem à extinção de alguns estabelecimentos de ensino, de forma a integrar numa só estrutura as escolas ensino básico e, em alguns casos, as de ensino secundário.

O projecto de resolução que o Bloco apresenta visa fundamentalmente estabelecer critérios qualitativos que sejam determinantes na ponderação da decisão sobre fecho de escolas, bem como na criação dos agrupamentos. Ou seja, que se proceda ao reordenamento da rede escolar, de acordo com princípios

Nesse sentido, consideramos ser de extrema relevância que relativamente ao encerramento das escolas básicas de 1º ciclo, bem como à instituição dos agrupamentos escolares, que o Ministério da Educação atente a princípios consonantes com a promoção da igualdade de todas as crianças no acesso ao ensino, que valorizem projectos educativos de sucesso e por isso meritórios, e finalmente, que pautem todo o processo por um permanente envolvimento da comunidade educativa local, sejam as próprias escolas, os municípios, os pais e encarregados de educação.

Para que o processo de reorganização das escolas seja orientado pelos princípios de qualidade e de democratização que acreditamos ser fundamental para uma melhor oferta educativa, recomenda-se que, relativamente ao encerramento das escolas:

- Durante o próximo ano lectivo seja programada a reorganização da rede escolar, mediante negociação entre o ME e as comunidades educativas locais;

- O encerramento das escolas aconteça em casos de taxas de insucesso escolar superiores à média nacional nos últimos três anos;

- Em casos cuja avaliação externa das escolas tenha resultado numa avaliação negativa por parte da equipa avaliadora;

- E por fim, sempre que as infra-estruturas da escola apresentem carências fundamentais;

- O percurso da casa à escola de uma criança do 1º ciclo não ultrapasse os 35 minutos. Relativamente à reorganização dos agrupamentos, esta deve respeitar os seguintes critérios:

- Número de alunos por agrupamento não pode ir além dos 1500;

- Num mesmo edifício não pode haver mais de dois ciclos concentrados;

- A partir dos 700 alunos o agrupamento de escolas ou a escola não agrupada mantém a sua autonomia de gestão;

- O processo de fusão das escolas deve emergir das próprias escolas e não ser uma imposição das Direcções Regionais de Educação.»

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Registos do fim-de-semana

Caso TVI: 'As escutas provam tudo'
— Na sua declaração de voto, Pacheco Pereira diz que era fácil concluir a partir das escutas que o primeiro-ministro mentiu, e afirma que a Comissão de Inquérito será julgada politicamente por ter sido impedida de chegar à verdade —

Processo-crime ao PS por financiamento ilícito
— A Entidade das Contas considerou que o pagamento do Taguspark a Luís Figo para apoiar Sócrates foi uma forma ilícita de financiar a campanha eleitoral do PS. E apresentou queixa-crime na Procuradoria —

Governo corta nas pensões sociais

PS e BE na rua com Alegre

Governo não pagou transportes escolares
Sol (18/6/10)

Caso PT/TVI: PSD vota relatório do caso TVI mas não censura Sócrates
Público (18/6/10)

Revelação: Paulo Penedos ligou a João Vasconcelos, assessor de Sócrates no 'dia D' do negócio PT/TVI. A escuta pode ter um efeito de bomba-relógio

Professores 'adoecem' para não verem exames

Sem a escola as pessoas partem de vez
Expresso (19/6/10)

Pacheco diz que mentira de Sócrates justificava 'consequências imediatas'
Público (19/6/10)

A semana terminou com a conclusão dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso PT/TVI. Foi um final caricato que revela o nível a que chegou a nossa política. Confirma-se que o primeiro-ministro mentiu ao Parlamento, mas ninguém o quer formalmente assumir, porque, partidariamente, a ninguém convém que o Governo caia. Assim, o País vai continuar a ser governado por um primeiro-ministro politicamente desqualificado e um Governo descredibilizado, e vai continuar com uma oposição que faz de conta que se opõe, porque, na hora da verdade, todos, em uníssono (a excepção foi Pacheco Pereira), fogem de assumir responsabilidades.
Entretanto, o PS foi processado criminalmente por financiamento ilícito. Mas, como isso é uma questão menor, quer o Partido Socialista quer Luís Figo continuam, alegremente, a assobiar para o lado.
Também entretanto, o Governo começou a cortar nas pensões sociais, deixou de pagar os transportes escolares às Câmaras Municipais e começou a fechar escolas. Entretanto ainda, o PS e o Bloco de Esquerda estão a preparar-se para irem juntos para a rua, em pré-campanha presidencial. O que daí vai resultar é coisa que veremos mais lá para a frente...
Finalmente, ficámos a saber que há muitos professores a adoecer no momento da correcção dos exames nacionais. Talvez fosse interessante ouvir o presidente da Ordem dos Médicos acerca da insinuada falta de seriedade da classe profissional que representa, que está subjacente à notícia. Como talvez fosse interessante saber por que razão isto acontece agora e não acontecia há dez, quinze ou mais anos, quando havia muito mais exames para corrigir, e quando cada professor corrector era sobrecarregado com centenas de provas (houve um ano, por exemplo, em que tive de corrigir 250 provas de exame de Filosofia de 12.º ano). Mas, nem ao jornalista nem ao Ministério da Educação, isso parece interessar.

domingo, 20 de junho de 2010

Pensamentos de domingo

«Eu beijei a primeira rapariga e fumei o primeiro cigarro no mesmo dia. Nunca mais tive tempo para fumar.»
Arturo Toscanini

«Eu quero que um filme comece como um terramoto e que depois aumente sempre de velocidade até ao clímax final.»
Samuel Goldwyn

«Disse que estava contra!
(Respondeu quando lhe perguntaram o que tinha dito o padre no sermão acerca do pecado).»
Calvin Coolidge
In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos

Joe Pass

sábado, 19 de junho de 2010

Não foi por falta de tempo

Confesso que não foi por falta de tempo que, nas duas últimas semanas, quase não escrevi no blogue. Falta de tempo é coisa que nenhum professor tem. Normalmente nem sabemos o que fazer ao tempo. Alguns, para o queimar, fazem blogues, outros vão a manifestações e se não há manifestações reclamam contra o governo, porque é preciso estar ocupado com alguma coisa que não seja preparar aulas, corrigir testes ou trabalhos e outras coisas dessas.
Os mais novos ainda preparam aulas, nós, os mais experientes (eufemismo de mais velhos), não preparamos aulas, damos, mecanicamente, as mesmas aulas que dávamos há vinte ou há trinta ou há quarenta anos. Os programas mudaram, mas nós, os mais experientes, continuamos a dar as mesmas aulas como se os programas não tivessem mudado, como se, todos os anos, os alunos não mudassem, como se, todos os dias, o mundo não mudasse. Nós, professores, somos assim: quanto menos fazemos menos queremos fazer, como a anterior ministra da Educação muito bem sabia. Não fosse ela professora.
Portanto, não foi por falta de tempo que quase não escrevi no blogue, nas duas últimas semanas, foi mesmo por falta de assunto. Portugal está sem assunto. Portugal não tem assunto. Nada acontece que valha a pena comentar. Tudo corre bem, tudo corre pelo melhor. Na política, na educação, no desporto, na economia, nas finanças não se encontra um motivo de interesse. Nada de estranho acontece, nada de menos recomendável acontece.
O mais recente exemplo de que nada de anormal acontece neste país, é o que se passou com a Comissão de Inquérito Parlamentar ao caso PT/TVI. O relatório aprovado por esta Comissão chegou à conclusão de que Sócrates sabia do negócio e disse, no Parlamento, que não sabia. Mas o mesmo relatório chegou a outra conclusão: concluiu que não pode concluir que Sócrates mentiu ao Parlamento. Esta conclusão tem alguma coisa de anormal? Não tem nada de anormal. Uma analogia: o menino Tonecas sabia que foi ele que comeu a última bolacha. A mãe perguntou-lhe se sabia quem tinha comido a última bolacha. O menino Tonecas respondeu que não sabia. Podemos concluir que o menino Tonecas mentiu à mãe? Não podemos. Podemos concluir que o menino Tonecas sabia e disse que não sabia, mas já não podemos concluir que o menino Tonecas mentiu à mãe. Esta não conclusão tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
A Comissão de Inquérito pediu as escutas relacionadas com o caso PT/TVI ao tribunal da Comarca de Aveiro. O tribunal da Comarca de Aveiro enviou as escutas. A acompanhar o envio, ia um despacho que afirmava não existir nenhuma inconstitucionalidade ou ilegalidade na utilização das escutas para o fim a que se destinava (caso contrário, não as teria enviado, como é óbvio...), e acrescentava que sem essas escutas não seria possível compreender o que tinha acontecido em torno do negócio PT/TVI. A Comissão de Inquérito pediu as escutas; a Comissão de Inquérito recebeu as escutas; à excepção de um deputado, a Comissão de Inquérito não quis ouvir as escutas e proibiu que o seu conteúdo pudesse ser tido em conta na elaboração do relatório final. Isto tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Chamar «vuzuzelas» às vuvuzelas, como o ministro dos Assuntos Parlamentares chamou, tem alguma coisa de anormal? Não tem nada de anormal. Chamar «precaridade» à precariedade, como o primeiro-ministro e alguns ministros chamam, tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Dizer que a sala de aula deixou de ser o centro da escola, como disse ao Público uma responsável da Parque Escolar, tem alguma coisa de anormal? Nada de anormal.
Tem alguma coisa de anormal dizer, como disse o secretário de Estado Adjunto da Educação, que é uma questão de justiça que a monumental farsa avaliativa realizada no ano passado conte para o concurso de colocação de professores? Nada de anormal.
Este País não tem nada de anormal.
Não foi, pois, por falta de tempo que estive quase duas semanas sem escrever. Foi porque este país não tem assunto.
Ia escrever sobre o quê?

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca da moral puritana

«A moral puritana caracteriza-se pela reprovação de certas condutas supostamente impudicas que, não obstante, não prejudicam ninguém. Os puritanos reclamam-se os garantes dos bons costumes e apregoam um severo código moral que, no fundo, encobre uma série de preconceitos socialmente arreigados, um repúdio perverso pelos prazeres do corpo e uma predilecção por manter as aparências a todo o custo. Fernando Savater, na sua Ética para Amador, acerta ao ilustrar essa falsa moral desta maneira:
"Os puritanos consideram-se as pessoas com mais moral do mundo e além disso guardiães da moralidade dos seus vizinhos [...]. O seu modelo parece a senhora daquele conto... recordas-te? Chamou a polícia para protestar porque havia uns miúdos nus a tomar banho em frente à sua casa. A polícia afastou os miúdos, mas a senhora voltou a chamá-la, dizendo que estavam a tomar banho (despidos, sempre despidos) um pouco mais acima e que o escândalo se mantinha. A polícia afastou-os de novo. [Mesmo assim] a senhora voltou protestar. ' Mas, minha senhora, — disse o inspector — nós mandámo-los para mais de um quilómetro e meio de distância...' E a puritana senhora respondeu 'virtuosamente' indignada: 'Sim, mas com os binóculos continuo a vê-los!"»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fragmenti veneris diei

«O que é para mim o sagrado?, pensou Fate. A dor imprecisa que sinto perante o desaparecimento da minha mãe? O conhecimento do que não tem remédio? Ou esta espécie de cãibra no estômago que sinto quando olho para esta mulher? E por que razão sinto uma cãibra, chamemos-lhe assim, quando ela olha para mim e não quando a sua amiga olha para mim? Porque a sua amiga é notoriamente menos bela, pensou Fate. Do que se deduz que para mim o sagrado é a beleza, uma mulher bela, jovem e de traços perfeitos. E se, de repente, no meio deste restaurante tão grande como pernicioso, aparecesse a actriz mais bonita de Hollywood, continuaria a sentir cãibras no estômago de cada vez que, sub-repticiamente, os meus olhos se encontrassem com os dela, ou, pelo contrário, a aparição repentina de uma beleza superior, de uma beleza ornada pelo reconhecimento, mitigaria a cãibra, diminuiria a sua beleza até uma dimensão real, a de uma rapariga um tanto estranha que sai uma noite de fim-de-semana para se divertir com três amigos um tanto ou quanto singulares e uma amiga que parece mais ser uma puta? E quem sou eu para pensar que Rosita Méndez parece uma puta?, pensou Fate. Conheço, porventura, alguma coisa acerca das putas mexicanas para as reconhecer numa primeira troca de olhares? Conheço alguma coisa sobre a inocência ou sobre a dor? Conheço alguma coisa sobre as mulheres? Gosto de ver vídeos, pensou Fate. Também gosto de ir ao cinema. Gosto de ir para a cama com mulheres. Não tenho neste momento uma companhia estável, mas não desconheço o que significa tê-la. Vejo o sagrado nalgum lado? Só tenho percepção de experiências práticas, pensou Fate. Um vazio que é preciso encher, fome que tenho de aplacar, gente a quem tenho de falar para poder terminar o meu artigo e receber dinheiro por isso. E porque é que penso que os que acompanham Rosa Amalfitano são três tipos singulares? O que é que têm de singular? E porque é que tenho tanta certeza de que se aparecesse de repente uma actriz de Hollywood a beleza de Rosa Amalfitano ficaria mortiça? E se não fosse assim? E se se acelerasse? E se tudo começasse a acelerar-se a partir do instante em que uma actriz de Hollywood transpusesse o umbral de El Rey del Taco?»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 367-368.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quinta da Clássica - Anton Arensky

Cinco questões prévias sobre o artigo do CM "Escola de Fitares castiga docentes"

Texto enviado pelo colega Paulo Ambrósio:

A notícia do "CM", que se segue, levanta-me para já cinco questões prévias:
1- Um membro dos corpos gerentes do SPGL/ FENPROF integra o direcção do Agrupamento de Fitares? [Em caso afirmativo, "Porreiro, pá!"]
2- Em caso afirmativo, que espera esse "camarada" para se demitir, coisa que já deveria ter feito pelo menos em Fevereiro?
3- Porque não deslocou a direcção do SPGL nenhum membro seu ao velório do Luís? [Eu não os vi lá, e essa ausência foi estranhada e censurada por alguns familiares].
4- E qual a posição do presidente da direcção do SPGL sobre todo o processo da morte do Luís?
5- De que está à espera o presidente da direcção, para a divulgar em "breve", como promete ao "CM"? [De uma Assembleia Geral de Sócios onde os proponentes da Moção "Lembrar Luís Vaz Carmo" o obriguem, pela força e legitimidade estatutária, a responder a todas estas questões incómodas?]
Paulo Ambrósio
A notícia do Correio da Manhã (14/6/2010):
Escola de Fitares castiga docentes
Professor diz que responsáveis da escola querem punir quem falou à Comunicação Social e vai processar quem o insultou numa reunião com a DREL.


José Luz, professor na EB 2,3 de Fitares, de onde era o docente Luís Carmo que se suicidou a 9 de Fevereiro, afirma que 'está em curso uma caça às bruxas' na escola, destinada a punir os professores suspeitos de denunciarem o caso à Comunicação Social. 'Houve um suicídio, mas estão é preocupados com quem falou à imprensa. Só decidi falar porque não tenho outra maneira de me proteger', lamenta o docente.
Na quarta-feira – quatro meses após o suicídio de Luís Carmo, segundo a família por não aguentar os maus tratos de que era alvo por parte de alunos, sem que a escola tomasse medidas –, o director Regional de Educação de Lisboa, José Leitão, esteve na escola numa reunião com o conselho pedagógico, o conselho-geral e a direcção, para apresentar os resultados do inquérito da Inspecção-Geral da Educação (IGE) às circunstâncias que levaram à morte do professor – a IGE ilibou a direcção do agrupamento e fez apenas recomendações.
'A reunião foi uma vergonha. A presidente do conselho-geral disse que os professores deviam ser sujeitos a exames psicológicos para poderem dar aulas; o presidente da associação de pais insultou professores, entre os quais eu, e disse que era preciso exterminar as ervas daninhas. A grande prioridade é punir quem, segundo eles, difamou a escola. A directora até ameaçou processar o professor Paulo Guinote por causa de textos no seu blogue [A Educação do Meu Umbigo]', disse José Luz, professor de Música, tal como era Luís Carmo, frisando que pretende agir criminalmente contra os autores dos insultos de que foi alvo.
O professor acusa ainda o Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL) de nada ter feito para proteger Luís Carmo, porque um elemento da estrutura sindical integra a direcção do agrupamento escolar de Fitares. 'Eles tinham o dever de se constituírem assistentes no processo. Têm tanta genica para atacar o Ministério da Educação mas neste caso nem apoiam a família.' António Avelãs, presidente do SPGL, afirma que o sindicato, a seu tempo, 'tomará uma posição'.

NEGADA REACÇÃO
Cristina Frazão, directora do agrupamento de Fitares, não esteve disponível para atender o ‘CM’. Confrontámos ainda José Leitão, via e-mail, com as declarações de José Luz, mas não obtivemos resposta.

SEM AUTORIZAÇÃO
António Avelãs, presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, afirma que o sindicato não se constituiu assistente porque não recebeu pedido ou autorização da família para o fazer.

'O MEU IRMÃO FOI UM ESTORVO'
A família de Luís Carmo ainda espera para conhecer o relatório do inquérito da Inspecção-Geral da Educação (IGE) à morte do professor, cujas conclusões foram conhecidas a 31 de Maio. 'Fiz o pedido por escrito, mas continuo à espera. Têm andado a enrolar. Primeiro não sabiam se eu podia ter acesso, depois tinha passado para a IGE. Para eles, o meu irmão foi um estorvo, só serviu para atrapalhar', disse ao CM Filomena Carmo, irmã do docente que se suicidou.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Às quartas

O Canto e o Pensamento

Ao Princípio era o Ritmo, a Rima a terminar,
E a Música entra nisto qual seu almo Pio:
A tão divino riquiquio
Chama-se Canto. Mas, para encurtar,
Um Canto, isso é "Palavras para pôr em Música".

O Pensamento é de uma outra esfera.
Se ele troça, ou se exalta, ou se encanta,
Jamais, é claro, um pensamento canta.
É "Sentido sem Canto" o Pensamento.
As duas coisas juntas: minha audácia é tanta?

Friedrich Nietzsche
(Trad.: Jorge de Sena)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Terças da MP - Chico Buarque

Acção de sensibilização

Informação recebida por e-mail:

Ontem, dia dia 14 de Junho de 2010 foi levada a cabo, em frente à EB1 Hélia Correia, a prevista acção de sensibilização para as condições de trabalho dos profissionais responsáveis pelas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no Concelho de Mafra, mais concretamente no Agrupamento de Escolas de Mafra. Esta acção, cujo aviso se fez acompanhar de uma carta aberta dirigida às instâncias com responsabilidade na sua implementação, assumiu como principal objectivo a intervenção na realidade local embora não esquecendo – e assinalando! – a precariedade que afecta globalmente todos os profissionais destas actividades por todo o país.

Como relativamente ao ano lectivo 2010/2011 ainda não foi definida qualquer directriz ou assumida qualquer responsabilidade por parte das entidades responsáveis, estes profissionais quiseram mostrar que estão atentos e que estão a lutar para a obtenção de condições de trabalho dignas, lembrando que este é o momento certo para as decisões adequadas e convenientes serem tomadas.

A acção de sensibilização decorreu dentro da maior responsabilidade e tranquilidade tendo atingido uma considerável moldura humana por volta das 9 da manhã, momento de maior afluência por parte dos pais que iam deixar os seus filhos à escola. Contudo, o seu impacto também deverá ser medido na presença e contacto directo por diversos meios de comunicação social local e nacional.

Com o auxilio da plataforma “Precários Inflexíveis” que se solidarizou com este grupo de profissionais, foi ainda colocada uma faixa alusiva às exigências futuras desta classe docente (contrato e direitos).

Nesta acção, mais do que a crítica ao que de mal tem sido feito no município (cuja responsabilidade é da Câmara Municipal de Mafra, mas também do Colégio Miramar como entidade até agora mediadora na “contratação” dos docentes), foram exigidas responsabilidades em relação à necessária melhoria nos procedimentos futuros, nomeadamente o fim da utilização de falsos recibos verdes e a realização de um contrato de trabalho para estes profissionais. Os professores presentes contactaram directamente com os pais, distribuíram panfletos elaborados para o efeito e ainda explicaram a todos os cidadãos interessados o quão precária é, também em Mafra, a situação destes profissionais que asseguram a denominada Escola a Tempo Inteiro (ainda que “à hora”). Desta feita, foi ainda lembrado que no próximo dia 18 de Junho estes profissionais irão para o desemprego sem possibilidade de recurso ao subsídio respectivo devido ao facto de estarem sob o regime de utilização dos falsos recibos verdes.

Perante este panorama, os profissionais das AEC mostraram que lutam pelos seus direitos. Mostraram que têm voz e que esta tem de ser ouvida. E afirmaram esperar que este dia possa representar um ponto de inflexão no futuro do seu exercício profissional.

Os Profs das AECs do Agrupamento de Escolas de Mafra

Bonecos de palavra

Para ampliar, clicar na imagem.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Registos do fim-de-semana

Sócrates vaiado

Cavaco diz que situação do país é insustentável

«O Estado não respeita aqueles a quem tudo se exigiu» (António Barreto)

Autarquias recusam fiscalização do Governo

Turmas mais pequenas? ME e especialistas dividem-se.
Público (11/6/10)

Silêncio no tribunal vale ouro
— A opção pelo silêncio em tribunal pode 'apagar' crimes. Do Apito Dourado a casos de homicídio, o que se diz ou não diz no julgamento vale mais do que a investigação —

Sócrates encostado à parede
— Cavaco endureceu o discurso e exige explicações para os 'sacrifícios pedidos ao povo' —

Mandatário de Alegre irrita Bloco de Esquerda

Há mais formas de 'saltar' anos na escola

'Regressámos ao séc. XVIII, onde os pobres eram castigados' (Bruto da Costa)
Sol (11/6/10)

Relatório PT/TVI agrada a Passos

Escutas podem chegar ao YouTube
Expresso (12/6/10)

Juiz diz que caso TVI só se percebe com as escutas

Insiste Luís Amado: limite do défice deve estar na Constituição

Bloco acusa José Sócrates de ter mentido no Parlamento

Avaliação conta para os concursos de professores
Público (12/6/10)

Sócrates foi vaiado e Cavaco diz que o país está numa situação insustentável — a perplexidade é dupla: apenas agora é que Sócrates é vaiado?!; apenas agora é que Cavaco afirma que estamos numa situação insustentável?! Por onde tem andado o povo? Por onde tem andado Cavaco?
Uma petição que pede um máximo de 19 alunos, por turma, no 1.º ciclo e de 22 nos restantes anos de escolaridade ser contestada pelo Ministério da Educação retrata fielmente o ME que temos. Os argumentos contra a petição são de tal modo medíocres que inviabilizam o debate sério.
É a hipocrisia de sempre a dominar a política.
Não falar no tribunal é o melhor que os criminosos têm a fazer. Dizia-se, antes do 25 de Abril, que o calado era o melhor... A Justiça portuguesa continua a considerá-lo o melhor.
Parece que há um mandatário de Alegre que irrita o Bloco de Esquerda. E ainda a procissão não saiu do adro... Parece que o relatório do caso PT/TVI, feito pelo deputado do Bloco de Esquerda, agrada a Passos Coelho. Porque será?
As escutas, que não podem ser utilizadas nas conclusões da Comissão de Inquérito Parlamentar, vão poder ser ouvidas por toda a gente, daqui a algum tempo. Mais um contributo para o anedotário nacional.
O tribunal decidiu que a avaliação, afinal, conta para o concurso de professores contratados. Mais uma vitória sindical...

domingo, 13 de junho de 2010

Pensamentos de domingo

«Todo o acesso a uma alta função se serve de uma escada tortuosa.»
Francis Bacon

«A ambição é como a fome. A sua única lei é o seu apetite.»
Josh Billings

«A ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação à riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade, e acaba a acumulá-la como objectivo.»
Charles Colton
In Paulo Neves da Silva, Dicionário de Citações.

Michel Petrucciani Trio

sábado, 12 de junho de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico

«[No livro 5000 Anos a. C. e Outras Fantasias Filosóficas], conta Raymond Smullyan que [um mago], para demonstrar a existência de Deus perante Carnap, [...] utilizou a aliança entre um truque de magia e uma lei lógica. Quando o mago terminou a sua suposta demonstração e ficou patente que esta se baseava num truque de magia, Carnap exclamou:
— Ah! Claro, prova por prestidigitação! A mesma utilizada por todos os teólogos!
Com efeito, através do exercício de prestidigitação com a linguagem quis demonstrar-se muitas vezes a existência de Deus. Assim, os padres [...] defenderam durante muito tempo a ideia de que Deus tinha de existir porque assim dizem as Sagradas Escrituras. Mas como sabemos que as Sagradas Escrituras dizem a verdade? Porque as Sagradas Escrituras são a palavra de Deus, respondiam os padres [...].
Como se vê, o argumento incorre na falácia chamada "petição de princípio" (ou também "círculo vicioso") e recorda uma história judia contada por José António Marina no seu livro Dictamen sobre Dios:
"Dois piedosos judeus discutem sobre as excelências dos respectivos rabinos. Um diz:
— Deus conversa com o nosso rabino todas as sextas-feiras.
— Como sabes? — perguntou o outro.
— O próprio rabino nos disse.
— E como sabes que não mente?
— Como iria mentir um homem com quem Deus fala todas as sextas-feiras?"»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Intervenção de Daniel Cohn-Bendit no Parlamento Europeu


O agradecimento a António Magueija pelo envio deste vídeo.

Carta Aberta

Carta Aberta recebida por e-mail:

«Somos um grupo de professores responsáveis pelas Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) no Agrupamento de Escolas de Mafra e pretendemos com este manifesto alertar as diferentes instâncias responsáveis por estas actividades, assim como todas as pessoas implicadas na sua aplicação, para a realidade por nós sentida ao longo deste ano lectivo.

Pretendemos igualmente sensibilizar todos os envolvidos para a necessária atenção que merece o exercício das nossas funções no futuro imediato.
No ano lectivo que agora finda, o Colégio Miramar assumiu a responsabilidade da organização das AEC nos quatro Agrupamentos de Escolas do Concelho de Mafra. Esta “organização” limitou-se aos arranjos dos horários e ao pagamento dos acordados 11 euros por hora leccionada. Nesta remuneração foram incluídas as reuniões de turma, mas não as planificações e avaliações das aulas e outros desempenhos relacionados assim como os períodos referentes às pausas lectivas. Deste modo, este valor não só é eminentemente baixo em comparação com outros municípios bastante mais exemplares (considerando ainda o trabalho não lectivo não pago), como também revela uma prática ilegal devido à utilização de falsos recibos verdes através da soma mensal das horas leccionadas.

Também não nos foram dadas condições para o correcto exercício das nossas funções. Os materiais saíram-nos muitas vezes do bolso, nunca houve uma estrutura departamental que nos coordenasse e regulasse (pelo contrário, cada professor que se desenrascasse sozinho com as suas turmas e consoante a escola), fomos obrigados a saltar de escola em escola durante a jornada laboral, nunca sentimos que houvesse quem nos apoiasse (pelo contrário, exigem-nos atitude docente mas tratam-nos como monitores de animação) e nunca recebemos o pouco que nos foi destinado a tempo e horas (com especial atraso para quem não possui conta na Caixa Geral de Depósitos). Em suma, nunca sentimos fazer parte das comunidades escolares onde leccionámos e onde acabámos por “vender à hora” serviço dito educativo. Para agravar a situação, estaremos todos no desemprego a partir do próximo dia 18 de Junho (sem direito a subsídio devido aos falsos recibos verdes). Até quando? Também não sabemos o que se passará no próximo ano lectivo.
Sentimo-nos mal-tratados e prejudicados mas temos esperança num futuro melhor. Temos esperança que a Escola a Tempo Inteiro seja uma realidade de qualidade e também que possamos fazer parte dela de acordo com a formação que adquirimos e com a motivação que ainda nos faz querer dedicar a nossa vida profissional ao ensino formal. No fundo, é também a qualidade da Escola Pública que está em causa e a educação das crianças que nela participam. Afinal, não são também os alunos e o processo de ensino-aprendizagem inerente a estes altamente prejudicados com esta nossa situação de precariedade?

Perante o exposto, não queremos que o ano lectivo acabe sem uma necessária acção de sensibilização a todos os intervenientes na Escola. Pensámos numa mobilização que aponte o dedo ao que de mau se passou mas sobretudo que perspective o futuro e que nos ajude a exigir um maior cuidado relativamente à nossa acção profissional. É fundamental que quem exerce o Poder assuma as suas responsabilidades e é agora, enquanto se escrevem as linhas futuras, que essa responsabilidade deve ser reclamada por uns e exigida por nós.
Desta feita, e ainda que o consideremos imperfeito, exigimos o cumprimento do decreto-lei 212/2009 de 3 de Setembro, o qual refere a obrigatoriedade do estabelecimento de um contrato de trabalho com os docentes responsáveis pelas AEC.

É neste sentido que levaremos a cabo a referida acção simbólica, a qual assinalará a falta de condições que vivemos ao longo deste ano, mas que principalmente alertará para a óbvia necessidade de uma mudança nos procedimentos já no ano lectivo 2010/2011. Esta acção será realizada entre as 8:30 e as 11 horas da manhã de segunda-feira dia 14 de Junho de 2010 em frente à EB1 Hélia Correia, em Mafra. Estimulamos todos aqueles que, estando na mesma situação ou que connosco sintam cumplicidade, se juntem a nós neste manifesto.
Definitiva e efectivamente, queremos que Mafra seja um exemplo de inovação educativa.
Contamos com a intervenção, apoio, divulgação e reconhecimento de todos vós.»

Um grupo de professores responsáveis pelas AEC do Agrupamento de Escolas de Mafra

Fragmenti veneris diei

«Quando o chefe da secção veio ao telefone, Fate explicou-lhe o que estava a acontecer em Santa Teresa. Foi uma explicação sucinta da sua reportagem. Falou-lhe dos assassínios de mulheres, da possibilidade de todos os crimes terem sido cometidos por uma ou duas pessoas, o que os convertia nos maiores assassinos em série da História, falou-lhe do narcotráfico e da fronteira, da corrupção policial e do crescimento desmedido da cidade, garantiu-lhe que só precisava de mais uma semana para averiguar tudo o que fosse necessário e que depois partiria para Nova Iorque e em cinco dias teria a reportagem pronta.
— Oscar — disse-lhe o chefe da secção — , estás aí para cobrir a merda de um combate de boxe.
— Isto é superior — insistiu Fate — o combate é só um episódio, o que estou a propor é muito mais coisas.
— O que me estás a propor?
— Um retrato do mundo industrial no Terceiro Mundo — explicou Fate —, um aide-mémoire da situação actual do México, uma panorâmica da fronteira, um relato policial de primeira grandeza, foda-se.
— Um aide-mémoire? — disse o chefe da secção. — Isso é francês, preto? Desde quando é que tu sabes francês?
— Não sei francês — respondeu Fate —, mas sei o que é a merda de um aide-mémoire.
— Eu também sei o que é uma porcaria de um aide-mémoire — retorquiu o chefe da secção —, e também sei o que significa merci e au-revoir e faire l'amour. O mesmo que coucher avec moi, lembras-te dessa canção? Voulez-vous coucher avec moi, ce soir? E acho que tu, preto, queres coucher avec moi, mas sem dizer antes voulez-vous, que neste caso é primordial. Percebeste? Tens de dizer voulez-vous e se não dizes estás fodido.
— Aqui há matéria para uma grande reportagem — disse Fate.
— Quantos manos estão metidos no assunto? — perguntou o chefe da secção.
— De que merda é que me estás a falar?
— Quantos cabrões de pretos estão com a corda no pescoço? — perguntou o chefe da secção.
— Eu sei lá, estou a falar-te de uma grande reportagem — disse Fate —, não é de uma revolta no gueto.
— Ou seja, não há mesmo nenhum mano nessa história — disse o chefe da secção.
— Oh, meu filho da puta, não há nenhum mano, mas há mais de duzentas mexicanas assassinadas — insistiu Fate.
— Que possibilidades é que Count Pickett tem? — perguntou o chefe da secção.
— Mete o Count Pickett no teu cu preto de merda — disse Fate.
— Já viste o rival dele? — quis saber o chefe da secção.
— Mete o Count Pickett pelo teu olho do cu acima, paneleiro — continuou Fate — e pede-lhe que tome conta dele porque quando eu voltar para Nova Iorque vou rebentar-te o cu a pontapés.
— Tu cumpre o teu dever e não faças batota com as ajudas de custo, preto — disse o chefe da secção.
Fate desligou.
Ao pé dele, a sorrir, havia uma mulher vestida com jeans e casaco de couro cru. Tinha óculos escuros e do ombro pendiam-lhe uma mala de boa qualidade e uma máquina fotográfica. Parecia uma turista.
— Está interessado nos assassínios de Santa Teresa? — perguntou ela.
Fate olhou para ela e demorou a compreender que tinha escutado a chamada telefónica.
— Chamo-me Guadalupe Roncal — disse a mulher estendendo-lhe a mão.
Apertou-lha. Era uma mão delicada.»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 343-344.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

As frases do dia 10 de Junho

«Como avisei, na altura devida, chegámos a uma situação insustentável.»
Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República de Portugal.

«Nós não estamos em nenhuma situação insustentável.»
José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal.

Quinta da Clássica - Sergei Rachmaninoff

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Às quartas

Contraluz

as aves surgem,
acende-se uma chama
eis a mulher.

sem nomes nem laços, nem véu
errando de olhos fechados
a mulher sob a frescura do mar.

mas bruscamente voltam as aves
e alonga-se esta chama
mais do que entreapercebida
no fundo do quarto.

e é o mar
o mar de braços adormecidos
transportando o sol,
nem oriente nem norte, nem obstáculo nem barra,
o mar.

nada, a não ser o mar tenebroso e doce
caído das estrelas, testemunha das mutilações do céu,
solidão, pressentimentos, sussurros.

nada a não ser o mar.
os olhos extintos
sem vaga, nem vento, nem vela.

bruscamente de novo as aves,
e eis a mulher
nem estrela nem sonho, nem géiser, nem roda, a mulher.

as aves voltam
e nada mais que o mar.

Mohammed Dib
(Trad.: Adalberto Alves)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Registos do fim-de-semana

Comissão de inquérito: Vara mentiu várias vezes
— Armando Vara mentiu várias vezes nas declarações que fez à Comissão de Inquérito do caso TVI, como provam novas escutas telefónicas a que o SOL teve acesso. Vara esteve sempre a par do que se passava naquela estação —

Pacheco vai fazer 'relatório paralelo'

Banca rota repetiu-se esta semana
— Os bancos portugueses voltaram esta semana a viver momentos difíceis; o sistema de financiamento é cada vez mais apertado —

O fado com Chico Buarque
— Sócrates foi ao Brasil e acabou desmentido pelo cantor, o seu 'ídolo da juventude' —

Apoio espartilha Alegre
— Com Sócrates ao lado, o candidato viu-se forçado a moderar as críticas —

Bruxelas prepara queixa judicial
— Comissão Europeia diz que houve desperdício de fundos públicos no programa 'e.escola' —

Fecho de escolas abre nova guerra
Sol (4/6/10)

Dívida do PS aumentou de três para 35 milhões de euros no espaço de um ano
Público (4/6/10)

Passos quer liberalizar despedimentos e contratações
Expresso (5/6/10)

Sócrates diz "nim" ao aumento de impostos

Regimes diferentes para o 8.º ano em vigor este ano podem violar a Constituição

Deputados mantêm direito a classe executiva em voos com duração superior a três horas

Educação destaca-se nas queixas feitas na Provedoria de Justiça em 2009

Petição pede fim de acumulação de pensões e salários

Adjudicação directa dos Magalhães foi ilegal, diz Bruxelas
Público (5/6/10)

Juristas sem formação fazem de procuradores
— Há comarcas sem procurador há mais de uma década —
Público (6/6/10)

Vara mente ao Parlamento, Sócrates mente ao Parlamento, mas no passa nada. Sócrates vai ao Brasil e mente: diz que Chico Buarque pediu para conversar com ele, afinal, foi ao contrário. Mas no passa nada.
Alegre já tem o desejado apoio de Sócrates, agora, vêm as trapalhadas — querer agradar a gregos e a troianos vai dar no que sempre deu.
Passos Coelho quer liberalizar despedimentos e contratações: são estas as inovadoras propostas que a nova liderança trás?
Os deputados consideram que a crise existe apenas até 3 horas de voo, a partir daí, já não há crise.
Há três anos o Governo fechou as escolas com menos de dez alunos. Agora vai fechar as escolas com menos de vinte alunos, com o mesmo argumento que utilizou para fechar as de dez alunos. A seguir, vai fechar as escolas com menos de trinta alunos? E depois vão ser as que têm menos de quarenta? Só para termos uma ideia: qual é o limite que os recorrentemente citados estudos definem para o «fecha ou não fecha» de uma escola?
Sócrates diz «nim» a um futuro novo aumento de impostos, mas dissesse Sócrates sim ou dissesse não seria indiferente, ninguém acredita no que ele diz.
A dívida do PS aumentou, em apenas um ano, mais de onze vezes — o PS governa o país do mesmo modo que se governa a si próprio.