quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Alemanha: rigor, seriedade e superioridade morais?

A arrogância típica da cultura alemã dominante considera o povo alemão como o melhor do mundo em tudo ou quase tudo o que faz. Do futebol aos automóveis, das artes às ciências, a cultura alemã dominante pavoneia-se com auto-elogios desmesurados. A esta petulância, a cultura alemã dominante adiciona uma insuportável altivez ético-moral que a faz considerar-se legítima juíza das outras culturas. Apesar da ausência de qualquer fundamente que a justifique, essa altivez existe. Todavia, se a memória não fosse curta, bastaria que essa cultura alemã revisitasse o seu próprio passado recente para encontrar motivos de sobra que a deveriam fazer sentir uma absoluta inibição na elaboração de juízos sobre a valia das culturas e dos comportamentos de outros povos.
Mas essa inibição não existe; pelo contrário, a cultura que predomina na Alemanha leva a que este Estado se considere no direito (e até no dever) de mandar na Europa (e, a seguir, irá pretender mandar no mundo, como já pretendeu antes). Quer mandar politicamente, quer mandar economicamente e quer mandar moralmente. Sem pudor, assume-se como o paradigma do rigor e da seriedade e como a referência que todos deveriam mimetizar. Sem escrúpulos, dita ordens, impõe condições, exige obediência, tudo sustentado numa presumida superioridade (para já, sustentado apenas numa presumida superioridade cultural, económica e moral, mas nada garante que não resvale novamente para uma presumida superioridade de natureza eugénica, como também já aconteceu antes).
A cultura alemã dominante é uma cultura perigosa que com facilidade adopta o lema «os fins justificam os meios» e, consequentemente, viola regras sejam elas quais forem, se isso corresponder aos seus interesses. O recentíssimo caso da Volkswagen é um exemplo. Um construtor de automóveis que organiza meticulosamente uma gigantesca fraude, com o objectivo de enganar Estados e consumidores, através da criação de um software que falsifica os dados sobre a emissão de gases poluentes dos seus automóveis, revela o quanto de repugnante e de escabroso essa cultura encerra. Também há pouco tempo grandes empresas farmacêuticas alemãs realizaram fraudes milionárias com o contrabando de medicamentos contra o vírus HIV que eram destinados a países africanos. E só nos últimos dez anos, foram múltiplas as empresas alemãs de dimensão mundial que foram apanhadas no negócio da corrupção. A Henkel, a Daimler-Chrysler, a Degussa, a Siemens e a Schering foram algumas delas. Assim como grandes bancos alemães já foram acusados de sonegação fiscal. Mas não foram só as grandes empresas, também muitas empresas de dimensão média têm sido acusadas e condenadas por práticas de corrupção. E, se formos ao mais alto nível desta cultura dominante, vemos o modo como recentemente o governo alemão salvou os seus bancos, provocando a crise do euro e atolando em dívida o Estado grego, a despeito dos mais elementares princípios éticos na relação entre Estados e Povos.
As propagadas seriedade e superioridade moral alemãs são um mito, que a realidade desfaz.
A cultura alemã dominante é perigosa. Se a deixarem à solta, pode tornar-se fatal, uma vez mais...