quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Uma vitória inútil

Imagem de António Cardal
António Costa foi quem dominou o debate de ontem à noite. Passos Coelho foi confrontado com algumas das suas malfeitorias, e titubeou de modo proporcional à sua falta de seriedade política. Na linguagem da moda — aquela que adora rankings, competitividades, vencedores e vencidos, heróis e derrotados — Costa ganhou o debate. Mas, infelizmente, esta vitória é inútil, não serve de nada. Aliás, serve para o que não interessa. Serve para alimentar o circo que televisões, rádios e jornais montaram à volta deste debate, e serve para satisfazer as mentes que têm o seu horizonte de prazer limitado ao espectáculo do ganhar e do perder. Mas, para a transformação da realidade, esta vitória é uma inutilidade. 
Para além da retórica, o que separa Costa de Coelho é uma linha tão ténue que se torna quase invisível. Se o PS vencer as eleições, as diferenças entre a sua política e a do actual governo serão tão ligeiras que quase nem daremos por elas. O fundamental, o essencial, o estrutural manter-se-á exactamente como até aqui se tem mantido. As obscenas desigualdades que caracterizam o nosso país manter-se-ão; as obscenas situações de injustiça social manter-se-ão; o fundamental das políticas de educação, de justiça e de saúde manter-se-á; os obscenos privilégios do sistema financeiro e das grandes empresas manter-se-ão; a dependência da dívida, que hipoteca o nosso futuro, manter-se-á; a veneração pelo tratado orçamental, que constrange as nossas possibilidades de desenvolvimento, manter-se-á. Nada de essencial mudará, porque, na verdade, PS e PSD são partidos apenas ligeiramente diferentes. 40 anos de democracia confirmam-no de forma evidente. Estes dois partidos estão totalmente de acordo naquilo que é estrutural da nossa vida política, económica e social, e, por isso, nada de verdadeiramente importante se alterará, enquanto a maioria dos eleitores persistir em lhes dar o voto.
Costa deixou Coelho a gaguejar. É verdade, mas o problema não está em saber quem foi mais acutilante no uso do verbo, ou em saber quem estava mais nervoso, ou em saber quem teve melhor ou pior postura corporal ou enrugou mais ou menos a testa; o problema está em saber quem apresentou e apresenta caminhos diferentes para o país e para a vida dos portugueses; e a verdade é que nenhum deles apresentou nem apresenta esse caminho.
Sendo o PS somente um partido ligeiramente, ou levemente, diferente do PSD, a vitória retórica de Costa é uma desgraçada inutilidade.